Hoje apetece-me o mar – não sei o que me aconteceu – não procuro nem encontro. Ando às voltas entre as paredes a tentar encontrar um não-sei-quê, não-sei-como. Estou demasiado lúcida, demasiado pertinente, demasiado sóbria para poder pensar. E então sento-me no chão e cruzo as pernas. É o que me resta! Divago acerca da existência de uma posição para pensar. E concluo que não preciso de nenhuma. Que a minha cabeça só anda às voltas com a minha própria cabeça. (Parem com isso dentro dela!) Que as paredes não têm culpa nenhuma, e que hoje só me apetece o mar porque me apetece alguém, que as paredes não deixam entrar. Foi mais ou menos assim que eu percebi que as minhas paredes só existem quando eu própria as edifico, quando eu sou responsável por elas. As essas, tu chamaste-las, ou eu chamei-as ou nós chamámo-las barreiras. Felizmente, a minha necessidade de evasão esbate-se com o tempo. Descruzo as pernas porque estás aqui! Hoje é um dia feliz. Hoje estas paredes sabem a mar! Hoje estas paredes não limitam o meu horizonte. Hoje, de pernas cruzadas no chão do meu quarto, pensei em ti. Hoje estiveste aqui, nevaste e cobriste-me de branco, com uma leve tendência para o azul.
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