domingo, 26 de dezembro de 2010

Ninguém

E ninguém viu que eu estava ali,
E ninguém viu o que nós desenhámos no chão
Tão nosso, tão meu,
Durante tanto tempo,
E ninguém viu que éramos vento por aí
Seara de mão aberta no momento
E ninguém viu que o mundo inteiro era eu.
Ninguém acreditou na deusa de um nada no céu
Ninguém sentiu o silêncio que cala,
A dor de um alguém que não vale
Nem a canção que o embala
Nem o sorriso que o farta,
Nem o aço da bala
Que o mata.
Abre os olhos fechados no campo,
Menino.
Abre-os que estão cheios de encanto
Rapaz,
Sonha que sabes que és pequenino,
Luta porque és capaz.
E ninguém sabe morada,
Ninguém te viu levantar,
Ergue-te do pó que te é vida, Menino.
Luta por teres quem amar.
Por debaixo da camisola
Teres tantos porquês...
E vamos jogar à bola  porque tudo mudou,
E porque alguém reparou que o Mundo Inteiro, Parou.
Outra vez.

sábado, 4 de dezembro de 2010

As we know it

Noites? Nem sempre são longas
Sentada à espera,
Mãos no tempo do relógio,
Oscila o vento, temperado
Que quase largo se vai,
E o sorriso sai do rosto
Cansado de ser amado,
Às vezes paraíso posto,
Longo, pesado.
Sombra de ser, alma entre a gente,
Vai-se a lua embora
Venho-me eu da noite, que não sou diferente...
E meu amor, trago-te no peito,
Como a lua que na hora
Foi e não voltou...
E o vento sempre volta, passado perfeito
E nós somos noite escura, noite longa
Sorriso que cai no lado da chuva que sobrou.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

This Letter

Escrever para alguém é como aprender a desenhar. Riscam-se as primeiras palavras, deixa-se fugir aquilo que não devia fugir, aquilo que devia ficar preso entre os dedos... E vamos pela cidade, talvez embevecidos, deambulantes, até encantados por aquilo que fica, que se torna roxo em vez de cor-de-rosa nas nossas cabeças. E vem uma vontade alucinante de dar a mão, de jurar que nunca mais volto a pintar assim; amar é como pintar um desenho imperfeito pela primeira vez, saímos tantas vezes do risco com o lápis vermelho que já nem sabemos o que estava desenhado por baixo.
Hoje sinto-me assim, sem saber desenhar, sem me saber pintar a mim própria, uma descoberta de traços indefinidos, perdidos ou nem por isso, entalados na minha forma de ser e de te saber, porque éramos mais Domingos ou não, semana inteira, de olhos fechados, qual sorriso logo de manhã, bom dia desgastado sem brilho.
E nisto a janela quase nos deixa entrar já que não há portas, já que fomos fechados em passados amarelecidos pelo tempo. Mas continuamos aqui, prontos para tudo menos para abrir os olhos, cansados de parar de pensar, fartos de corações apertados e lágrimas nos lábios, mas sempre, sempre, com um sorriso de bom dia, prontos para abrir o guarda-chuva.




If I ever write this letter
the pages I could write
But I don't know where to send it
you have vanished
heaven knows where you live
Heaven only knows

sábado, 27 de novembro de 2010

Até ao fim do fim.

"A felicidade não está no que acontece mas no que acontece em nós desse acontecer. A felicidade tem que ver com o que nos falta ou não na vida que nos calhou. Devo dizer-te que me não falta nada, quase nada."


Vergílio Ferreira, in "Em Nome da Terra"
ESCREVO PORQUE EXISTO….
Mesmo limitada, na minha forma (im)perfeita de ser e de me dar…
Mesmo sabendo que caio tantas vezes no ridículo…
Mesmo sabendo que estou tantas vezes isolada....
Mesmo sabendo que para muitos a escrita não é nem nunca será mais do que uma figura de estilo indiferente aos sonhos…
Mesmo não conseguindo entender como pode ser “belo” erguermos a mão contra o vazio, sabendo que ninguém a alcança.
Escrevo agora na esperança de que me leias …
Porque sei que me vais ler, sobretudo para te pedir desculpa do exagero na forma de te buscar,
Pela minha não forma de saber lidar com o tempo e a distancia…
Por não saber o sabor da ausência
Por não estar presente de outra forma…
Por não conseguir ser apenas poema escrito no papel atirado aos ventos à espera dos sonhos
Por não ser uma melhor maçã, metade arrancada de mim para ta entregar.


sábado, 20 de novembro de 2010

Para sempre...

Estive a pensar em ti, mais uma vez, e a lembrar-me de coisas pequenas, de pormenores soltos. Gostava que pudesses fazer o mesmo. Gostava que tivesses uma memória igual à minha, para te lembrares de tudo o que eu disse e com que intenção. Para te lembrares do que eu tinha vestido quando o disse e quais os gestos que fiz. Acho que se tivesses uma memória como a minha me terias amado mais. Talvez me tivesses conhecido melhor, compreendido melhor. Imagino que te lembres vagamente do meu cheiro e da cor dos meus olhos. Mas queria que te lembrasses do resto. Que as minhas palavras te ressoassem nos ouvidos e no coração. Não eram apenas pistas, não eram simples divagações. Eram ideias claras, mapas, bússolas, barómetros. Desenhei com nitidez tudo o que sentia para tu poderes ver. Mas não te consegues lembrar. Ficou-te uma vaga ideia. E eu lembro-me de todas as revelações, de todos os indícios, de todos os pressentimentos, de tudo o que tentaste dizer e tudo o que eu pude adivinhar em reticências inconsequentes. Talvez por isso eu soubesse amar tanto e tão bem.


Claro que também me lembro de coisas tristes, mas depois de terem passado e serem apenas memórias, fazem-me sorrir. Mesmo as tristes. E claro que às felizes também sorrio. É por isso que às vezes pareço tola, de tanto me rir sozinha. É que me lembro de tudo e há sempre qualquer coisa a acordar em mim a cada momento. E eu rio, apenas. E é bom, e eu gosto de me lembrar de ti. Mas se me lembrar mais do que um bocadinho, se tiver tempo para me ficar a lembrar de ti uma tarde inteira, o sorriso torna-se amargo, azeda-me na boca. Porque sei que me lembro sozinha. E já era assim antes. Antes do fim. O fim, que nunca é bem um fim, tu sabes. Comigo nunca nada é uma coisa só. Talvez por isso te tenhas perdido, nas bifurcações. Quando me doer a cara de tanto me lembrar de ti, hei-de procurar-te, outra vez. Para te fazer lembrar um bocadinho, mesmo sabendo que a ti te custa. Mas é importante que lembres. Para que as coisas não percam o sentido. Para que saibas porquê. Para que compreendas melhor. Para que compreendas que o teu amor é simples de mais para mim. Para que compreendas que não basta amares o meu cheiro e a cor dos meus olhos, ou uma vaga ideia de mim. Mas mesmo que não compreendas, eu perdoo-te. Já perdoei antes. E vou continuar a lembrar-me de quem tu és debaixo disso tudo, mesmo que já não te lembres de me teres mostrado.


"Caminhava como que acima da multidão. Em perfeição. E vinha a sorrir, muito ao de leve. Muito ao de leve, cruzou o ombro com o seu. Foi um roçar delicado, como o sorriso, mas o suficiente para que deixasse de lado o seu profundo desprezo pelo mundo, apenas por um instante. O seu coração dorido deixou de arder por um instante, só por constatar que ainda existia uma réstia de gentileza no mundo. Talvez valesse a pena respirar mais um pouco, talvez até encontrar o próximo sorriso perdido na rua que restaurasse em si a vontade de caminhar devagar. Mesmo sem abrir o guarda-chuva."






*



“If love is shelter/I’m gonna walk in the rain”

sábado, 6 de novembro de 2010

C'tarina

Mais… Ou menos. Inocente… ou ingenuamente liberta. Soltava a palavra daquele sorriso que preenchia a nossa existência. Chegava a arrastar os pés, leves mas acorrentados firmemente na veemência daquela esperança. A mais… Ou a menos. Um perfume enche o lar rarefeito de amor. Soltam-se as amarras e entregam-se as mãos ao mundo. Nessa altura vivia permanentemente à espera dos momentos que dedicavas a atirar-me para a realidade de uma forma tão serena que eu jurava não ser real.


Tira as mãos da minha estrela.

sábado, 11 de setembro de 2010

Porquê?

Verdade ou não...

Aqueles dias são-me mais.
Sabem? Esta é aquela fase em que expomos todas as dúvidas e todos os problemas, e as nossas dúvidas transformam-se em facilidade para duvidar de nós próprios.
Eu estou a passar por aí.
Coisas grandes à minha frente, tempos bons e tempos maus, dualidades para lidar, com o mínimo de sofrimento possível.
Uma sombra, uma luz, um carro, passagem.
A veracidade dos acontecimentos e a responsabilidade que nos cai sobre os ombros quando a palavra desce também: Universidade.

Estamos todos lá meus amigos, e espero tanto por vocês como por mim.

Beijinho.

domingo, 15 de agosto de 2010

28.

A mais ou a menos… És a minha ligação ao passado, e a minha ponte para o futuro. Procuro-te em mais sítios do que aqueles que o mundo tem. Nunca te encontro suficientemente perto. Tens uma espécie de arame farpado, a parede onde arranho as minhas mãos ao tentar encontrar-te.


Mas volto a ti, velha de guerra, para encontrar a confiança.

És o único sítio onde alguma vez senti pertencer.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ahhrrrgggg

Encandeia-me.
Entrança-me.
Emaranha-me.
No fundo, sou sempre verdade quando
me dizes: “Adeus”
E me constróis.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Verde.

A cor suplanta-me o desejo.
E o sentimento deixa-me dizer. Não que a vivacidade do que é nosso me surpreenda: Não. Somos espectadores desde início e, na verdade, nem sempre donos das nossas emoções. Quase como se, no fundo, a profundidade do verde me carregasse as entranhas
E a Natureza quase é curta.
E a Natureza quase é rara.
E a Natureza quase é escassa.
A verdade é que no meio disto tudo, amanhã vamos todos sonhar e viajar. E no fim?
O mesmo chão, os mesmos medos
Entre tudo,
A Natureza em todo lado, longe da sua escassez.
Sou nevoeiro. Sombra! E depois lutamos, ali, no meio do mundo. Com coragem para enfrentar qualquer um que nos invada o espaço. Mas… ela um dia morre, e eu vou chorar. Nesse mesmo dia, eu morro também. Porque às vezes temos de ser duros demais. E vamos ter coisas para lembrar…


Somos metades iguais.

Faz falta...

Eu irei. Mas espera. Sou aquilo que não me dão quando os meus punhos te apertam por necessidade. Sou mais da tua verdade do que do teu silêncio.


E se um coração vai mudando, no vento, no tempo, na voz…

“És meu irmão amigo, és meu irmão…”