segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

E se eu te disser que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que, lá fora, o sol raiava um convite para um dia feliz, mesmo sabendo que havia tanto para fazer e tanto em que acreditar, e que mesmo o que fiz para evitar piores consequências foi a pensar no que sentia – E se eu te disser? Que me vais dizer se eu te disser que hoje não é um dia como os outros e que não tenho energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje me levantei devagar e sem vontade de nada, como vais reagir?
Vais dizer “anima-te” ou toma um anti-depressivo, ou vais-me dizer que há gente por aí a viver coisas muitos piores do que eu e vais-me dizer para um vestir algo leve, ouvir uma música animada até voltar a ser quem sempre fui, velha de guerra.
Vais fazer isto porque gostas de mim, ou porque simplesmente porque não toleras a tristeza: nem a minha, nem a tua, nem a de ninguém. A tristeza é considerada a variante anormal do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar ao primeiro sintoma.
A verdade é que eu hoje não acordei triste, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando estou triste, também está tudo normal. Porque a tristeza é um sentimento tão legítimo como a alegria, estar triste é estar atento a si próprio, desapontado com alguém, com muitos, ou consigo, cansado de repetições, descobrir-se frágil num dia qualquer sem nenhum tipo de razão – as razões têm essa mania de serem discretas.
É mais fácil saír para a rua, forçar um sorriso, dizer que está tudo bem, desamarrar a cara. É só porque a sociedade abraça a nossa euforia e desconfia de quem está sempre calado. Há dias em que não estamos para o hip-hop nem para o rock e não é por isso que devemos brindar sobre o que não faz sentido. Deixem-nos assim, porque “assim” é um armazém de força e de sabedoria e daqui a pouco a gente volta, a gente volta sempre, com um sorriso verdadeiro – anunciar de uma dor que acabou até ao próximo dia cinzento, normais que somos.
Isto tudo para te dizer que não há barreiras em ti que eu queira quebrar, não há nada que eu queira mais do que ver-te sorrir, por sorrir, porque hoje é um dia normal. Não necessito que não estejas bem para te dar um abraço, vou-to dar quando me apetecer. Não precisas de já ter contado comigo para saber que o podes fazer: tu sabes disso. E também sabes que o que existe entre duas pessoas é delas, e a sociedade que se dane, porque eles não sabem nada, não veêm nada, não sentem nada daquilo que eu sei em ti, mesmo que nunca me tenhas dito nada, simplesmente porque um dia ergui barreiras bem mais altas do que as tuas.
E sim, isto é metade teu; metade meu, porque metade das coisas eu sabia, a outra metade aprendi contigo, e o que resta das duas metades vou aprender quando destruir as minhas barreiras e vir que as tuas são bem mais pequenas do que aquilo que a minha vista alcança.

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