Despedidas.
Aqueles momentos que me assombraram toda a vida, que me enchem de nada e me fazem erguer as mãos para o céu e jurar que nunca mais.
Não volto a despedir-me,
Não volto a amar, a gostar, a apaixonar-me,
Não volto a ir embora,
Não volto a chorar,
Não volto a dizer adeus.
Não volto. Não volto.
Mas volto sempre, volto sempre a voltar. A amar, a chorar, a despedir-me, a ir embora, a dizer adeus.
Nestas alturas nunca sei bem se sim, ou não, se vou ou fico, se a vida é mesmo assim... Sei que a partida me faz passar os últimos tempos de lágrimas nos olhos, e normalmente chego ainda a ver uma pontinha de medo espreitar entre a palma das minhas mãos.
HOJE.
O que eu sinto verdadeiramente, pela primeira vez na minha vida, e com intensa confiança, é que não existe Deus, nunca existiu e nunca existirá. E que estou certa em pensar assim. Polémicas, lutas aguerridas – só isso existe. Seres emaranhados nos seus problemazitos do calendário em Excel e orçamentos. Um mundo atulhado de gente apressada e estéreis discussões, em missões bélicas, lentas, penosas, divertidas e estúpidas, triviais e calorosas, caminhada sem norte, escuros dias em que os corpos se desfazem. Medos, cobardias, misérias, castigos, timidez. Espaços de decepção, claustrofóbicos, sem saída, onde tudo se frustra e se agoniza numa morte lenta.
Um mundo que necessita de um cinema, para, às escuras, chorar e secar as feridas expostas. Uma vida que é um romance de cordel, teatral e politico. A esperança de um amor eterno e a promessa de um beijo teu, que me eterniza a vida.
Nesta cidade, onde nenhum de nós mora, também por vezes o lugar da mais arriscada solidão. Gosto deste lugar, como gosto de um concerto para violino de Tchaikovsky, porque “está lá tudo”, estão lá as viagens que não fiz.
Quase ontem ao entardecer conhecemo-nos e falámos. Um arranjinho. Sete minutos mais cedo ou mais tarde e não teria acontecido. Cruzarmo-nos numa "rua" anónima tão estreita não admira que nos tivéssemos sentido atraídos, uma rua afinal tão humana e desinibida; ficámos enredados numa torrente sentimental, aninhados em sorrisos, até a noite cair para dentro de nós.
Falámos de livros tudo, com ou sem palavras, meros armazéns de ternura. Esse é o momento sagrado. Se houver um sacramento é esse. Será essa coisa a que chamam destino? Pode ser. As coisas que nos acontecem na vida, sim. As nossas memórias, sim. Os nossos desejos, sim.
Não te posso perder, não quero desistir de ti.
Não foi em vão, não foi inútil, foi tão bonito o nosso encontro, que embora tenha vindo num tempo ingrato, chegou no tempo do coração.
Despedida.
Uma lágrima, um beijo e um abraço, a impotência da vitória do amor perante o medo da morte. Tal como um bando de pássaros voa para longe, sem levar nada.
É nestas alturas que a vida se transforma tão só num punhado infantil de areia ressequida, num som de água ou de bronze e numa sombra que passa, como escreveu um dos meus poetas…
Sabes uma coisa? És a minha vida. Amo-te. Mais ou menos assim. Fui procurar palavras...
Volto Logo
Sem comentários:
Enviar um comentário