sábado, 27 de novembro de 2010

Até ao fim do fim.

"A felicidade não está no que acontece mas no que acontece em nós desse acontecer. A felicidade tem que ver com o que nos falta ou não na vida que nos calhou. Devo dizer-te que me não falta nada, quase nada."


Vergílio Ferreira, in "Em Nome da Terra"
ESCREVO PORQUE EXISTO….
Mesmo limitada, na minha forma (im)perfeita de ser e de me dar…
Mesmo sabendo que caio tantas vezes no ridículo…
Mesmo sabendo que estou tantas vezes isolada....
Mesmo sabendo que para muitos a escrita não é nem nunca será mais do que uma figura de estilo indiferente aos sonhos…
Mesmo não conseguindo entender como pode ser “belo” erguermos a mão contra o vazio, sabendo que ninguém a alcança.
Escrevo agora na esperança de que me leias …
Porque sei que me vais ler, sobretudo para te pedir desculpa do exagero na forma de te buscar,
Pela minha não forma de saber lidar com o tempo e a distancia…
Por não saber o sabor da ausência
Por não estar presente de outra forma…
Por não conseguir ser apenas poema escrito no papel atirado aos ventos à espera dos sonhos
Por não ser uma melhor maçã, metade arrancada de mim para ta entregar.


sábado, 20 de novembro de 2010

Para sempre...

Estive a pensar em ti, mais uma vez, e a lembrar-me de coisas pequenas, de pormenores soltos. Gostava que pudesses fazer o mesmo. Gostava que tivesses uma memória igual à minha, para te lembrares de tudo o que eu disse e com que intenção. Para te lembrares do que eu tinha vestido quando o disse e quais os gestos que fiz. Acho que se tivesses uma memória como a minha me terias amado mais. Talvez me tivesses conhecido melhor, compreendido melhor. Imagino que te lembres vagamente do meu cheiro e da cor dos meus olhos. Mas queria que te lembrasses do resto. Que as minhas palavras te ressoassem nos ouvidos e no coração. Não eram apenas pistas, não eram simples divagações. Eram ideias claras, mapas, bússolas, barómetros. Desenhei com nitidez tudo o que sentia para tu poderes ver. Mas não te consegues lembrar. Ficou-te uma vaga ideia. E eu lembro-me de todas as revelações, de todos os indícios, de todos os pressentimentos, de tudo o que tentaste dizer e tudo o que eu pude adivinhar em reticências inconsequentes. Talvez por isso eu soubesse amar tanto e tão bem.


Claro que também me lembro de coisas tristes, mas depois de terem passado e serem apenas memórias, fazem-me sorrir. Mesmo as tristes. E claro que às felizes também sorrio. É por isso que às vezes pareço tola, de tanto me rir sozinha. É que me lembro de tudo e há sempre qualquer coisa a acordar em mim a cada momento. E eu rio, apenas. E é bom, e eu gosto de me lembrar de ti. Mas se me lembrar mais do que um bocadinho, se tiver tempo para me ficar a lembrar de ti uma tarde inteira, o sorriso torna-se amargo, azeda-me na boca. Porque sei que me lembro sozinha. E já era assim antes. Antes do fim. O fim, que nunca é bem um fim, tu sabes. Comigo nunca nada é uma coisa só. Talvez por isso te tenhas perdido, nas bifurcações. Quando me doer a cara de tanto me lembrar de ti, hei-de procurar-te, outra vez. Para te fazer lembrar um bocadinho, mesmo sabendo que a ti te custa. Mas é importante que lembres. Para que as coisas não percam o sentido. Para que saibas porquê. Para que compreendas melhor. Para que compreendas que o teu amor é simples de mais para mim. Para que compreendas que não basta amares o meu cheiro e a cor dos meus olhos, ou uma vaga ideia de mim. Mas mesmo que não compreendas, eu perdoo-te. Já perdoei antes. E vou continuar a lembrar-me de quem tu és debaixo disso tudo, mesmo que já não te lembres de me teres mostrado.


"Caminhava como que acima da multidão. Em perfeição. E vinha a sorrir, muito ao de leve. Muito ao de leve, cruzou o ombro com o seu. Foi um roçar delicado, como o sorriso, mas o suficiente para que deixasse de lado o seu profundo desprezo pelo mundo, apenas por um instante. O seu coração dorido deixou de arder por um instante, só por constatar que ainda existia uma réstia de gentileza no mundo. Talvez valesse a pena respirar mais um pouco, talvez até encontrar o próximo sorriso perdido na rua que restaurasse em si a vontade de caminhar devagar. Mesmo sem abrir o guarda-chuva."






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“If love is shelter/I’m gonna walk in the rain”

sábado, 6 de novembro de 2010

C'tarina

Mais… Ou menos. Inocente… ou ingenuamente liberta. Soltava a palavra daquele sorriso que preenchia a nossa existência. Chegava a arrastar os pés, leves mas acorrentados firmemente na veemência daquela esperança. A mais… Ou a menos. Um perfume enche o lar rarefeito de amor. Soltam-se as amarras e entregam-se as mãos ao mundo. Nessa altura vivia permanentemente à espera dos momentos que dedicavas a atirar-me para a realidade de uma forma tão serena que eu jurava não ser real.


Tira as mãos da minha estrela.